Projeto IA 2.0 do Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis

ONR avança na construção da Inteligência Artificial do Registro de Imóveis do Brasil

Projeto IA 2.0 do Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis busca padronizar procedimentos e apoiar a qualificação registral com segurança, interoperabilidade e supervisão humana obrigatória

Em reunião realizada no dia 18 de julho, o Operador Nacional do Sistema Eletrônico do Registro de Imóveis (ONR) deu início a uma nova etapa na implantação do Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis (SREI): a construção de uma Inteligência Artificial própria, voltada à qualificação registral de contratos de compra e venda com alienação fiduciária.

O encontro contou com a participação do presidente do ONR, Juan Pablo Correa Gossweiler; do vice-presidente, Fernando Nascimento; do presidente do Conselho Deliberativo, João Pedro Lamana Paiva; do head de Dados e IA, Ricardo Bolognesi Dias de Paula; e do professor doutor em Direito pela FGV, Roberto Caparroz, coordenador do Grupo de Pesquisa sobre o Impacto da Tecnologia nas Relações Jurídicas, Sociais e Econômicas (GITEC) da FGV Direito SP, além de representantes estaduais, conselheiros e coordenadores técnicos.

O projeto, batizado de IA 2.0, sucede o modelo IARI já utilizado na extração de indicadores para o Provimento CNJ nº 143, e representa um salto qualitativo no uso da tecnologia como ferramenta de apoio à atividade registral. A proposta é desenvolver uma solução escalável, segura e juridicamente responsável, baseada em dados reais de todo o território nacional. Cada serventia participante deverá enviar 100 contratos com alienação fiduciária e as respectivas matrículas, para compor o dataset inicial da IA, além de seus checklists internos — materiais que ajudarão a calibrar a tecnologia com a diversidade da prática registral brasileira.

“O desafio não é tecnológico, é institucional. Nosso objetivo não é substituir ninguém, mas oferecer suporte concreto à qualificação registral. A Inteligência Artificial será treinada com base em documentos reais, sob curadoria dos próprios registradores, respeitando a legislação de proteção de dados e os princípios da Resolução 615 do CNJ”, afirmou Fernando Nascimento, vice-presidente do ONR. “É uma construção coletiva, nacional e supervisionada. Não há solução mágica — há trabalho técnico, parceria federativa e responsabilidade”, completou.

A reunião também marcou o alinhamento entre os eixos estratégicos do ONR: integração dos sistemas estaduais ao SREI, desenvolvimento tecnológico com uso de blockchain e Inteligência Artificial, e aprimoramento das plataformas de atendimento digital. O Instituto IBETCH, sob coordenação de Roberto Caparroz, participa ativamente da modelagem jurídica e funcional do projeto, assegurando que as soluções sejam compatíveis com o ecossistema dos mais de 3.600 Registro de Imóveis do país.

Durante o encontro, os participantes reforçaram a importância da uniformização dos procedimentos — especialmente nos atos com maior volume de entrada, como os contratos com alienação fiduciária. “Esse é um momento de convergência. A IA poderá nos ajudar a identificar padrões, revisar critérios, sugerir minutas e qualificar documentos com maior agilidade, mas sempre sob a decisão final do registrador”, destacou João Pedro Lamana Paiva. “A autonomia da qualificação é um pilar da segurança jurídica, e continuará sendo. A tecnologia entra como meio, não como fim.”

A arquitetura tecnológica da solução será operada dentro do ambiente seguro do projeto Conecta, que já oferece contas Google institucionais aos Cartórios, com pastas exclusivas e canal direto com a equipe técnica do ONR. Os dados compartilhados não serão acessados por terceiros e permanecerão sob controle exclusivo dos registradores e do Operador Nacional. 

Ricardo Bolognesi, coordenador técnico do projeto, detalhou os próximos passos. “Cada Cartório enviará os pares contrato e matrícula, com exemplos de notas de exigência e seus próprios checklists, quando disponíveis. A diversidade regional é essencial para treinar uma IA robusta. Quanto mais plural o conjunto de dados, mais precisa será a recomendação da ferramenta”, explicou. “Nosso compromisso é com uma IA que sirva ao registrador, e não o contrário.”

Com previsão de entrega da versão inicial (MVP – Produto Mínimo Viável) até o fim do ano, a IA 2.0 poderá reduzir em até 70% o tempo de qualificação dos títulos, segundo estimativas preliminares. A expectativa é de que o custo de uso por processo fique entre R$ 1,00 e R$ 1,50, o que permitirá ampla adesão sem comprometer a sustentabilidade das unidades. O ONR também articula com as empresas de softwares que operam os sistemas locais, para garantir integração fluida e transparente — mantendo a autonomia de cada Cartório e preservando o ambiente tecnológico já adotado pelas unidades.

Ao final da reunião, Juan Pablo Gossweiler agradeceu o engajamento de todos e destacou o papel histórico da categoria. “Estamos construindo o que nenhum outro país conseguiu: uma Inteligência Artificial pública, especializada, nacional e protegida. E estamos fazendo isso com critério técnico, cooperação federativa e transparência. Essa IA será o espelho da nossa prática. E o Brasil vai olhar para ela com orgulho”.

O envio dos documentos e o cadastramento das unidades será feito pela plataforma Conecta, via e-mail oficial (cienciadados@onr.org.br). O prazo para a formação do primeiro dataset é de até três meses, e todas as regiões do país devem ser representadas. A padronização, interoperabilidade e segurança da informação são os compromissos que orientam os próximos passos do projeto. “Quem domina os dados, domina a soberania do Registro. E ela continua, por princípio, pública e nacional”, finalizou Fernando Nascimento

Por Luana Lopes 

Assessoria de Comunicação do ONR 

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